Casar é uma decisão difícil. Não
só para os homens, para as mulheres também. Bom, pelo menos pra mim é. Não vou
negar que quando eu era pequena eu treinava a minha entrada na igreja e sempre
achei casamentos inspiradores e algo que eu queria para minha vida. Mas também
não tem como negar que junto com esse sonho cresceu outro, que foi ficando bem
maior com os anos: ser independente. Mais do que ser uma esposa, meu sonho era
ter a MINHA casa, o MEU quarto, o MEU carro, dormir a hora que EU quisesse,
sair para onde EU quisesse, ter os amigos que EU quisesse.
De uns anos pra cá esses dois
desejos se confrontaram. Ser uma esposa boazinha que sonha em ter pimpolhos
correndo pela casa ou ser a ovelha negra da família e me tornar uma dessas
personagens de filme americano que se encontra aos, sei lá, trinta e poucos
cheia de independência e cheia de crise de consciência?
Bem, por ter me metido em um
relacionamento que já vai completar cinco anos e por achar que amo demais o tal
rapaz, eu optei pelo primeiro sonho: ser uma esposa certinha, a mocinha da
família que não engravida antes do casamento, não casa antes de ter casa, não
tem casa antes de ter emprego e todas essas coisas... Desde então eu junto
dinheiro que nem uma condenada. Não tenho carro, não tenho teto... Não compro
nada muito caro, me satisfaço com pouco, economizo no que dá. Me mato todo
santo dia me revezando entre 4 ônibus e 2 metrôs. Levo sol na quenga, cheiro
suvaco fedido, tenho que lidar com mendigos e malandros. Quando chego no
trabalho já perdi e muito a dignidade. Já subi e desci de nao sei quantos
coletivos, já sentei em banco imundo do metrô pra trocar as havaianas pelo
salto, já ouvi ambulante gritando no meu ouvido, já desci escada vomitada, já
fui empurrada em fila de ônibus e meu perfume, meu frescor, já foram embora há
muito tempo. Acho que ninguém suspeita que eu tenha tomado banho. Mas adivinha
só: eu chego no trabalho feliz da vida, sou solicita, paciente, persistente,
educada, porque, sabe, vai valer a pena.