Eu passava por aquela tela doentia, passava a alguns quilômetros por hora mas o sinal me deteve. Aquela paisagem me deteve, o quadro de uma realidade que passa despercebida. A verdade de algumas vidas que deixamos encobertas pelo tapete.
Naquela sórdida tarde, eu vi duas histórias.
Uma delas já escrita, com final certo, meio dolorido. Aquele velho, ele tem uma história! E nesse momento me deu vontade de sentar ao lado dele e ouvir todas aqueles causos que aconteceram há cinquenta anos, mas nos parece há quinhentos. Aquelas conversas de avô numa tarde ensolarada, com sombra fresca e suco de acerola. Fiquei curiosa em saber como teria sido sua infância, sua juventude e como ele tinha ido parar ali sentado naquela calçada com uma sacola de feijão, arroz e - talvez - carne; tudo junto, tudo misturado. Como ele tinha perdido os talheres (ou será que nunca os teve)?
A outra história, essa talvez venha a ser até mais dolorida. É a história daquele menino, sentado ao lado do velho de chapéu desgastado. Uma vida que ainda está sendo escrita. Uma vida de um garoto, com a idade do meu irmão – aproximadamente. Mas esse garoto, come banana numa calçada quente. Talvez não saiba o que é escola. E enquanto meu irmão cola, na prova, ele cheira cola pra matar a fome. Acho que se ele ouvisse meu irmão chegar em casa dizendo ‘tô morto de fome’, iria rir e querer sentir tanta fome quanto ele. Provavelmente ele nunca usou um computador e nem sabe o que é playstation. Tão diferente da vida que a gente leva.
O sinal abriu. Eu continuei minha vida, me perguntando quem era aquele velho. E percebendo que aquele velho era aquele menino, que aquele menino - se der sorte – será aquele velho.
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