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quinta-feira, 15 de abril de 2010

Meu Sonho.



Encostei-me, era confortável e cheirava bem. E como era bom! Quis ficar ali pra sempre. Só encostada naquele lugar tão aconchegante. Quis morrer e renascer – se fosse possível, e ainda assim estar ali. Aninhada naquele pedaço quente de gente, de cuidado, de amor. Fechei meus olhos e pedi que ali começasse o sempre, do que ele chamava de pra sempre.

Era ele, seu ombro, seu tórax. Era um pedaço dele e, olhando mais distante, era ele todo. Era quem procurei e achei que nunca fosse encontrar. Era quem achei que não existia. Era meu sonho, só que agora era palpável, quente, simples e COMO CHEIRAVA BEM! E o gosto? Tinha gosto de romance e ‘homem da minha vida’. Era um sonho com gosto, cheiro, calor e textura; era real, só podia!

Fechei os olhos novamente e podia sentir aquele momento se eternizando no ontem, no hoje, no amanhã e no até-onde-eu-não-posso-ver.

Respirei fundo e continuei de olhos fechados, porque se fosse um sonho preferia nunca saber. E já comecei a sentir as mais belas mãos, as mais lindas do mundo a me fazer carinho nos cabelos, exatamente como pensei que seria. Um cafuné inexplicável, um relaxante natural. Um amor pulsando tanto que doía. Um beijo. Um abraço. E um pedido, uma súplica tão muda que só o coração podia ouvir. Um suplicio calado pedindo ele sempre ao meu lado, um desejo surreal de guardá-lo todo dentro de mim . Como se ele pudesse entrar ali e ficar lá, paradinho e quietinho, protegido.

Mas num ímpeto, reabri os olhos pra ver se era verdade. Ele ainda estava lá, beijou-me na testa, sorriu. Eu falei com Deus, em prece e agradecimento, fechei meus olhos e adormeci. Era felicidade demais pra um pequeno mês.



É o fim?

Algumas coisas a gente demomina que são pra sempre; mas elas não são. Algumas coisas simplesmente acabam. Sem marcar dia, hora ou ordem de chegada. Não são como as consultas ao ginecologista. Não, algumas coisas têm gosto de que nunca vão ter fim. Mas essas coisas, elas acabam.
Eu não lembro exatamente quando percebi que o fim tinha chegado - na verdade, eu ainda não quero acreditar que ele chegou. Eu só lembro que comecei a não sentir mais o cheiro bom e quando percebi, também não enxergava mais as cores. De repente, parece mesmo que é o fim.
Algumas pessoas simplesmente não se importam muito com nada. Elas enxergam apenas um ponto de vista, do ponto que estão. Mas o mundo, ah, o mundo é cheio de nuances e observar só um lado do quadrado não egrandece ninguém.
É um fim de uma história e o começo de uma nova. E quem disse tchau só esqueceu de olhar pra trás.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

O velho e o menino.

Sentado na calçada ele saciava sua fome. Comia, como se fosse um banquete. Sua comida na sacola, seus talheres eram os dedos. Ao seu lado uma criança, com uma banana e mãos sujas. Trapos no lugar das roupas e um chapéu desgastado que protegia alguma parte do rosto cansado do velho. Seu olhos pousavam apenas em sua refeição, já os da criança vagavam sem ponto fixo.

Eu passava por aquela tela doentia, passava a alguns quilômetros por hora mas o sinal me deteve. Aquela paisagem me deteve, o quadro de uma realidade que passa despercebida. A verdade de algumas vidas que deixamos encobertas pelo tapete.

Naquela sórdida tarde, eu vi duas histórias.

Uma delas já escrita, com final certo, meio dolorido. Aquele velho, ele tem uma história! E nesse momento me deu vontade de sentar ao lado dele e ouvir todas aqueles causos que aconteceram há cinquenta anos, mas nos parece há quinhentos. Aquelas conversas de avô numa tarde ensolarada, com sombra fresca e suco de acerola. Fiquei curiosa em saber como teria sido sua infância, sua juventude e como ele tinha ido parar ali sentado naquela calçada com uma sacola de feijão, arroz e - talvez - carne; tudo junto, tudo misturado. Como ele tinha perdido os talheres (ou será que nunca os teve)?

A outra história, essa talvez venha a ser até mais dolorida. É a história daquele menino, sentado ao lado do velho de chapéu desgastado. Uma vida que ainda está sendo escrita. Uma vida de um garoto, com a idade do meu irmão – aproximadamente. Mas esse garoto, come banana numa calçada quente. Talvez não saiba o que é escola. E enquanto meu irmão cola, na prova, ele cheira cola pra matar a fome. Acho que se ele ouvisse meu irmão chegar em casa dizendo ‘tô morto de fome’, iria rir e querer sentir tanta fome quanto ele. Provavelmente ele nunca usou um computador e nem sabe o que é playstation. Tão diferente da vida que a gente leva.

O sinal abriu. Eu continuei minha vida, me perguntando quem era aquele velho. E percebendo que aquele velho era aquele menino, que aquele menino - se der sorte – será aquele velho.


No cesto de roupas.


Eu tentei fazer tudo certo. Mas acho que tentar não serve de muita coisa. Se a gente não dá cem por cento pra alguém, esse alguém vai se queixar. E não adianta se a gente só tem cem por cento pra dar, pra todo mundo. Tem gente que não aceita dividir.

Eu devo dizer que fico magoada. É como se todo um passado cheio de alegrias fosse jogado no cesto de roupas sujas pra nunca ser lavado. Como pode, eu, que sempre fui sua unha e ela que sempre foi minha cutícula, de repente, estranharem-se como se nunca tivessem ficado juntas? É como se fosse pecado ser feliz!

E é assim? Se a gente não tá mais na mesma situação não serve mais? Ah, não era isso que eu pensava existir entre a gente. Eu acreditava haver amizade, cumplicidade, companheirismo, em qualquer tempo e não só nos difíceis.

Eu fico triste, mas existem coisas que não se escolhem... E existem pessoas que também estão muito acima disso. Mas existe uma escolha que é primordial entre todas, -talvez- a que eu fiz. Eu escolhi o que você e todo o resto do mundo escolheria. Eu escolhi ser feliz. E não abandono isso nunca mais!